Há muito que tenho saudades tuas. Tantas que nunca consegui terminar os textos em que te escrevia. Porque ficava sempre algo para dizer. Sempre fica.
Há muito que tu não eras tu. Os olhos eram os mesmos, mas já não brilhavam. A boca era a mesma, mas já não sorria. O corpo era o mesmo, mas já não se mantinha em pé. O coração era o mesmo, mas não reconhecia a alma.
As memórias que tenho de ti, do teu verdadeiro eu, são as que quero manter sempre comigo.
Aquele que dava longos passeios comigo pela praia e que, estando frio ou calor, e mesmo não sabendo nadar, tinha de se molhar todo no caminho de volta.
Aquele que tinha a maior paciência do mundo para jogar comigo às cartas e ao dominó, e perdia de propósito só para me alegrar. Aquele que abdicava de jogar com "os crescidos" para eu não ficar a jogar solitário. Aquele que jogava sueca melhor que ninguém, que sabia todas as jogadas e os jogos dos outros, e mesmo assim não se importava de ser o meu par e aturar todos os meus erros de jogo.
Aquele que foi começando a deixar de saber jogar, a ter menos paciência por causa disso, mas que mesmo assim continuava a jogar à "Guerra" e me dizia "Larga o perú que hoje não é Natal" quando te tentava enganar e ficar com cartas que não ganhava.
Aquele que me adorava, a sua única neta, e que me tratava como uma princesa.
Aquele que andava de bicicleta para todo o lado e que tinha na sua, a sua melhor amiga. Quantas vezes me disseram que para aprender a andar tu eras a pessoa mais indicada. Sempre tive medo. Mas sabes? Eras, mesmo assim, a pessoa em quem mais confiança tinha para me ensinar.
Sabia que nunca me irias deixar cair.
@Peregrina
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