sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Escrevi-te


Apareceste na bruma da noite e a minha cegueira não conseguiu definir-te. Seduziste-me e quis interpretar-te, descortinar-te em certezas e tomar-te para mim.
Então escrevi-te. Escrevi-te no vento, em bolas de sabão, frágeis e transparentes, em modos de te captar a essência e o coração.
Escrevi-te na areia, na insegurança do desconhecido. Deixei o mar molhar o teu sorriso e refrescar a minha mente. Mas hesitei e esborratei-te diversas vezes, enchi-te de pontos de interrogação e reticências, querendo decifrar-te.
Escrevi-te em pergaminho, e com carvão negro desenhei o teu corpo e o teu coração. Conjuguei-os, sublinhei-te, e vi que eras o que sempre tinha idealizado para mim.
Com tinta passei-te a limpo, substituí as interrogações e reticências por vírgulas e ponto-e-vírgulas e gravei-te em rocha fértil.

Escrevo-te ainda, no coração. A tinta permanente, indelével e profunda, com altos e baixos e em negrito. Numa escrita cuidada e com muito amor, por vezes com gatafunhos mas nunca com um ponto final.


@Peregrina